A família e a educação da fé

A família e a educação da fé

Por José Roberto M. Alcalde*

Pesquisa feita nos EUA (Family Life/2000) com adultos cristãos aponta quais são, atualmente, as maiores necessidades da família. Três se destacam: ajudar os filhos a crescer espiritualmente, estabelecer e ensinar valores cristãos e desenvolver o caráter, a identidade e a moralidade dos filhos.(1) A questão é: quem, como e onde encarar esse desafio?

Em geral a sociedade reconhece que os pais são os responsáveis diretos para suprir as necessidades dos filhos. A Bíblia diz (2 Timóteo 3:16,17) que os pais são os agentes de Deus autorizados para ensinar, corrigir e repreender visando uma educação na justiça. Os demais atores no processo educacional são cooperadores que influenciam. O lar continua sendo o local mais apropriado para desenvolver esse trabalho (a educação de berço) e a forma varia de acordo com a maturidade e os recursos de cada casal.

ONTEM E HOJE

Na sociedade dos tempos bíblicos, o sistema familiar era patriarcal, não havia escola pública e a profissão era adquirida no seio do lar. O clã (família estendida) era o principal responsável pela manutenção e crescimento das famílias. Nesse ambiente, o lar era o centro para a formação da vida – educação, capacitação, proteção e reprodução do ciclo familiar.(2)

Na sociedade atual, o sistema familiar é composto de pais e filhos (família nuclear), e, quando necessário, a adição de algum parente próximo em situação de risco. (avós, tios, sobrinhos). Todo sistema de educação e profissionalização é público e/ou privado, mas fora do lar.

Cada vez mais, nas últimas décadas, as tarefas antes atribuídas aos pais, vêm sendo terceirizadas. A família é vista pelo prisma econômico, ou seja, uma força de trabalho e consumo, já que tudo o que diz respeito à vida pode ser comprado.

A família e o lar tem se fragmentado, enfraquecendo seu sentido comunitário, dando lugar ao individualismo de seus membros. Alguns fatores responsáveis por isto são:

  • A influência cada vez maior da mídia.
  • O materialismo/consumismo aliado ao crescimento tecnológico.
  • Uma cultura de massa uniformizante.
  • As condições sócio-econômicas que geram desemprego e subemprego.
  • A elevação da violência associado ao consumo de drogas.
  • A busca pelo prazer como a razão maior de viver.(3)

Diante desse quadro, muitos pais, na busca por tentar fazer o melhor, acabam se dobrando e expondo seus filhos à pressões do novo ambiente, os quais, por sua vez, vão moldar suas famílias nessa nova “normalidade”. Pais e filhos vivem  estressados e frustrados, buscando a saída mais fácil (não a melhor!): o condicionamento que a sociedade impõe. Qual é a solução para isso?

O SENHOR DA FAMÍLIA

“Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Salmos 127:1)

“Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele” (Romanos 12:2 NTLH)

Segundo esses textos, somos parceiros e cooperadores do Senhor na edificação da família.

A presença do Senhor como fiador, sustentador e direcionador da família, deve servir aos pais e filhos como um sustentáculo de força e esperança para que seu esforço e dedicação não sejam perdidos na atual e na futura geração.

Perante o Senhor, os pais são a primeira escolha para treinar os filhos nos caminhos da vida. A formação da fé começa no lar, tanto para os filhos como para os pais. A fé ensinada promove o encontro da vida com a verdade.

O lar é o lugar onde a vida segue conforme suas convicções e estas são transferidas para a nova geração. O lar também é um lugar de responsabilidades, do exercício de autoridade e submissão, do aprendizado para servir, do enfrentamento de desafios, de maior influência sobre as pessoas e de decisões para a vida.

ESTRATÉGIA PARA ENSINO

“Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”. (Deuteronômio 6:4-9)

“Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos. Ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentados em vossa casa, e andando pelo caminho, e deitando-vos, e levantando-vos. Escrevei-as no umbrais de vossa casa e nas vossas portas.” (Deuteronômio 11:18-20)

Esses textos indicam aos pais algumas dicas de ensino válidas para os dias atuais:

  • Os pais, diante de Deus, são os co-pastores efetivos para a obra de formação dos filhos.
  • O ensino mais eficiente vem das atitudes dos pais, mais do que suas palavras.
  • As atitudes dos pais educam as crianças no coração, antes de compreenderem com a mente.
  • O texto de Deuteronômio 6:4-9, orienta os pais a como ensinar os filhos:
  1. Receber o ensino: “escuta ….. as palavras…”
  2. Praticar o ensino: “Amarás o Senhor….”
  3. Apropriar o ensino: “Estarão no teu coração…”
  4. Transmitir o ensino: “as inculcarás aos teus filhos…”
  5. Repassar o ensino: “delas falarás… as atarás….as escreverás..”

O povo de Israel também é lembrado que a sua vida depende do reconhecimento de que Deus é o Senhor, único soberano. Essa atitude conduz o povo a um amor pleno e devotado ao Senhor e ao próximo (veja Levíticos 19:18).

O povo deve compreender, ainda, que o amor integral ao Senhor constitui uma resposta à fidelidade de Deus, que sempre cumpre as promessas Dele. Lealdade ao Senhor e educação no lar caminham de mãos dadas. A família deve funcionar como o fiel da balança entre o individual (pessoa) e o comunitário (povo).

O VALOR DAS ATITUDES

Mais do que as palavras, são as atitudes dos pais que impactam e moldam o caráter e a conduta dos filhos. Confira a seguir,os comportamentos que não contribuem e os que cooperam no desenvolvimento dos filhos: (4)

NÃO favorecem a formação dos filhos:

  1. Pais que nada sabem dos filhos e mal lhes dedicam tempo. Os filhos não verão a casa como um lar, mas como uma simples residência, um hotel.
  2. Pais dominadores, possessivos, autoritários, severos e exigentes. Tornam os filhos irascíveis, impulsivos e agressivos. Também, podem desenvolver pessoas inseguras e instáveis.
  3. Pais superprotetores. Tornam as crianças muito dependentes dos outros, assim não desenvolvem a iniciativa para atividades próprias, nem para vencer obstáculos.
  4. Pais permissivos, muito indulgentes. Estes mimam os filhos e os deixam agir em função dos seus caprichos de momento. Eles se tornam egoístas e fracos, não sabem aceitar a frustração de um desejo, e tornam-se impacientes e agressivos.
  5. Pais frios ou indiferentes. Ele não tratam os filhos com carinho e afeto. Os filhos se tornam indiferentes com os outros, são tristes, não cordiais, e vivem mais isolados.

 

Atitudes que FAVORECEM o desenvolvimento dos filhos:

  1. Amor aos filhos de forma concreta e pessoal. Manifestações de carinho e afeto geram nos filhos uma confiança em si mesmos e torna o relacionamento social deles aberto e espontâneo.
  2. Amor exigente e compreensivo. A compreensão é o elemento que equilibra o relacionamento entre indivíduos. Compreensão, sem exigência, gera pais permissivos, e a exigência, sem compreensão, cria pais autoritários.
  3. Aceitação incondicional de cada filho. Isso significa que os pais devem demonstrar, sem margem de dúvida, a atenção a todas as necessidades de cada filho. Eles devem transmitir como cada um deles é importante na vida familiar. Uma criança aceita pelos pais, torna-se cooperativa, sociável, amigável, leal, emocionalmente estável e simpática. Ela encara a vida com confiança.
  4. Amor amadurecido. Os pais emocionalmente mais amadurecidos conseguem tratar seus filhos com mais equilíbrio, tornando-os mais autônomos, com liberdade proporcional a sua idade. Dessa forma, os filhos se revelam mais habilidosos, cooperativos, independentes e adaptados às situações sociais.

*José Roberto M. Alcalde é presidente da Associação Parceiro da Família e pastor na Comunidade Cristã El-Shadday 

 

REFERÊNCIAS

1.”Ministério com Famílias no século 21”, Dennis Rainey. Editora Vida, 2001.

2. A Família, educadora da fé, Edésio S. Cetina, in “Fundamentos Bíblico-Teológicos do Casamento e da Família” Jorge E, Maldonado (org.) Editora Ultimato, 1996.

3.”Fatores de dissolução da família”, Zenon Lotufo Jr., in “Curso de Especialização em Psicologia Pastoral”. CPPC, 1999.

4.”A importância da atitude dos pais”, Gerardo Castilho, in: “www.portaldafamília.org”. Extraído do livro “Educar para a amizade”, Editora Quadrante.

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